No cenário atual da saúde, os hospitais enfrentam o constante desafio de equilibrar a demanda por serviços de alta qualidade com a gestão eficiente de recursos. Todos temos acompanhado, com uma dose de preocupação, às notícias sobre contas cada vez mais desafiadoras de fechar. O dimensionamento adequado das tecnologias médico-hospitalares é também uma peça importante nessa equação. Por mais que esse tema possa desaparecer na curva A de despesas hospitalares, a viabilidade financeira dos hospitais passa por ajustes e controles em todas as suas linhas. Este texto discute os custos ocultos associados ao excesso de equipamentos, os riscos do subdimensionamento e como a locação de equipamentos pode oferecer a flexibilidade necessária para lidar com a sazonalidade.
O Custo Oculto do Excesso de Equipamentos
Hospitais que investem em mais equipamentos do que o necessário enfrentam custos significativos que vão além do preço de compra. A manutenção desses equipamentos, que pode representar anualmente mais de 10% dos custos de aquisição, torna-se uma despesa recorrente que impacta diretamente o orçamento operacional (OPEX). Esses equipamentos também costumam permanecer sob a gestão das Engenharias Clínicas, incluindo o plano de manutenção e calibração, afetando o dimensionamento dos recursos humanos. Além disso, o espaço físico adicional requerido para acomodar equipamentos não utilizados representa um custo de oportunidade, podendo até limitar a capacidade do hospital de expandir outros serviços críticos.
Não é incomum que, em hospitais com elevadas reservas técnicas, exista o adiamento crônico da finalização das manutenções corretivas quando necessitam de substituição de peças mais caras, já que o hospital “não precisa” daquele equipamento. Por falta de espaço nas Engenharias Clínicas, esse equipamento com defeito, sem previsão de ser consertado, vai parar “só Deus sabe onde”. E dessa falta de controle, o hospital pode sair do cenário de excesso de equipamentos para o desesperador “não tenho equipamento para abrir o leito”.
Os Riscos do Subdimensionamento
Por outro lado, o subdimensionamento de tecnologias pode ter consequências graves para a prestação de cuidados. A falta de equipamentos necessários pode levar a atrasos no diagnóstico e tratamento, afetando diretamente a qualidade do atendimento ao paciente e a satisfação geral, além de perdas diretas de receita pelo cancelamento de cirurgias e procedimentos. Muitas vezes, o impacto de um leito de internação fechado não é correlacionado com a cirurgia cardíaca que foi adiada pela falta de leito de UTI no dia seguinte.
O subdimensionamento pode também contribuir para uma maior pressão sobre os equipamentos disponíveis, aumentando o desgaste e os índices de falha, e consequentemente, os custos de manutenção. Acho que todo Engenheiro Clínico já teve uma noite mal dormida rezando para que a única autoclave em funcionamento não resolvesse parar. (Vou depois escrever o artigo sobre "As autoclaves são equipamentos malignos que combinam de parar todas juntas".)
A Locação de Equipamentos como Solução Flexível
Diante dos desafios do dimensionamento inadequado, a locação de equipamentos surge em algumas ocasiões como uma alternativa viável e flexível. Este modelo permite que os hospitais ajustem rapidamente seu inventário de equipamentos para atender às flutuações na demanda, sem comprometer a qualidade do atendimento. Além disso, a locação elimina a preocupação com a obsolescência tecnológica e reduz a necessidade de investimentos iniciais significativos (CAPEX), permitindo uma melhor gestão dos recursos financeiros. A locação também agrega mais previsibilidade ao OPEX, já que os custos de manutenção dos equipamentos médicos já estão englobados no valor.
Ao longo desses anos, observei casos concretos que exemplificam as vantagens da locação de equipamentos médicos. Por exemplo, com a abertura de novos hospitais ou a ampliação de unidades existentes, frequentemente os leitos de UTI inaugurados não são imediatamente ocupados, levando meses até que o fluxo de funcionamento e ocupação alcancem uma estabilidade. Além disso, não é raro que sejam necessários ajustes tanto no perfil dos leitos quanto nas quantidades disponibilizadas. Mesmo com as mais cuidadosas modelagens de negócio, a realidade hospitalar está sujeita a variáveis adicionais que podem afetar a demanda por serviços de saúde. Nesse contexto, a locação de equipamentos médicos, como monitores multiparamétricos, ventiladores pulmonares, bombas de infusão ou camas hospitalares, apresenta-se como uma solução estratégica.
Além de reduzir o investimento inicial necessário (CAPEX), que é especialmente elevado durante a fase de construção e ampliação, permite que a instituição adapte sua capacidade de atendimento de forma dinâmica. Conforme a ocupação dos leitos e, consequentemente, a receita aumentam, é possível expandir o número de leitos equipados sem comprometer ainda mais a liquidez financeira do hospital.
Conclusão
A gestão eficaz do dimensionamento de tecnologias em hospitais é fundamental para equilibrar a qualidade do atendimento com a sustentabilidade financeira. O excesso e o subdimensionamento de equipamentos apresentam desafios significativos, cada um com seus custos ocultos e impacto no atendimento ao paciente. A locação de equipamentos pode oferecer uma solução flexível e econômica, permitindo aos hospitais adaptar-se às mudanças na demanda e enfrentar o desafiador cenário da saúde. É crucial adotar estratégias que promovam tanto a excelência clínica quanto a eficiência operacional.
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